A treta entre Elon Musk e Donald Trump começou com o que parecia ser uma discussão sobre déficits e dívida do governo. Musk disse que a lei orçamentária é uma “abominação nojenta”, “revoltante, cheia de fisiologia”, chamada de “grande e bela” pelo presidente americano. De fato, os déficits aumentarão e a dívida dos EUA cresce sem limite.
Em outros termos, era o que disse Jamie Dimon, presidente do JP Morgan, maior banco americano: vai haver “rachadura” no mercado de títulos da dívida americana e “pânicos”, talvez em seis meses, talvez em seis anos. Larry Fink disse que os EUA vão “bater no muro” por causa do déficit. Fink é fundador e CEO do BlackRock, maior administrador de dinheiro do mundo.
Em dois dias, a conversa fiscal descambou para treta típica do espectro que vai do neodireitão à extrema direita. Dois bilionários, cada um em sua rede social própria, se acusam de crimes, privilégios, mentiras e traições, tudo lambuzado de teoria de conspiração e cara de pau lunática.
Musk disse que o nome de Trump está nos “arquivos Epstein”, um caso de tráfico e prostituição de meninas ou mulheres jovens, oferecidas a gente da elite americana e europeia.
A direitona americana se lambuza com essa história. Diz que a divulgação de todos os documentos do caso revelaria o envolvimento de figurões do Partido Democrata. O governo dos EUA liberou uns papéis em fevereiro, nada de novo. A direitona reclamou. E seguia o baile, morno, até Musk insinuar que Trump está no rolo, mas sem fazer acusação mais precisa e judicialmente mais arriscada.
Trump disse que ficou “desapontado” com as críticas de Musk ao plano fiscal. Que o dono da Tesla estaria na verdade irritado com a redução de subsídios para carros elétricos, do que Musk teria sido informado de antemão.
Musk respondeu que era mentira. Jogou dinheiro na cara de Trump, lembrou que doou centenas de milhões para a campanha presidencial e para candidatos do partido, sem o que os Republicanos não teriam maiorias no Congresso.
Trump disse que vai dar cabo de subsídios e contratos das empresas de Musk com o governo (dezenas de bilhões de dólares, na última década e meia, pelo menos). Sim, o pirão dos meus subsídios primeiro, para os outros motosserra. Javier Milei vai ficar de que lado da treta?
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
Musk ameaçou cancelar o serviço de suas naves espaciais para a Nasa. Insinuou que apoia o impeachment de Trump; que vai criar um partido de centro (para os 80% que ficam entre esquerda e direita).
Musk chegou a ser chamado de “co-presidente” dos Estados Unidos. Era sarcasmo da oposição, mas não muito. Dava broncas em secretários (ministros) de Trump, aos gritos, pois não passariam a motosserra nos gastos. Fuçava arquivos sigilosos, com dados sobre empresas e cidadãos. Desmontou partes da administração pública. Prometeu cortar US$ 1 trilhão em despesas, o equivalente a mais de metade do déficit do governo federal americano em 2024 (inclusive gastos com juros). Não rolou, nem iria rolar.
Escanteado no governo, perdendo dinheiro em suas empresas, sob pressão de acionistas, acabou por se afastar do governo. A cerimônia do adeus foi no salão Oval da Casa Branca, quase um funeral com honras de Estado com juras de amor, por assim dizer. Apareceu de boné, camiseta e olho roxo. Trump disse que não era um adeus, era um até breve. Isso foi na sexta-feira passada, 30 de maio. O que mais tem aí além de paranoia e mistificação?
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Fonte: Folha de S. Paulo