A suspensão por 90 dias de boa parte das tarifas comerciais entre Estados Unidos e China não deve influenciar o agronegócio brasileiro a curto prazo. Os Estados Unidos reduzem a tarifa de 145% para 30%, e a China, de 125% para 10%. Se as partes não chegarem a um acordo nesse período, o prazo poderá ser estendido.
A soja da safra 2024/25, principal item de exportação dos americanos para os chineses na pauta do agronegócio, praticamente acabou. Em um eventual acordo, os chineses deverão antecipar apenas compras da safra 2025/26, que só estará à disposição do mercado no fim do ano. A China ficou com 44% do volume de soja exportado pelos Estados Unidos no primeiro trimestre.
Um ponto de atração para o produtor brasileiro é a possibilidade de uma recuperação dos preços na Bolsa de Chicago, como ocorreu nesta segunda-feira (12). O efeito negativo é que os prêmios recebidos ficam menores, em vista de uma concentração menor de demanda no produto brasileiro.
A esperada guerra comercial entre Estados Unidos e China fez os chineses optarem pelo Brasil nos contratos de compra já em 2024. No primeiro trimestre deste ano, segundo dados do US Census Bureau Trade, a China gastou US$ 2,17 bilhões com soja americana, 53% abaixo do valor de igual período de 2024.
As compras chinesas da oleaginosa americana já vinham diminuindo, tanto pela oferta menor do produto pelos americanos, devido à quebra de safra, como pela opção dos asiáticos pela soja do Brasil. Em 2022, a China gastou US$ 17,9 bilhões na compra de soja nos Estados Unidos. No ano passado, o valor caiu para US$ 12,8 bilhões.
A procura chinesa pela oleaginosa nos Estados Unidos é importante para o produtor americano. No primeiro trimestre deste ano, 44% das exportações desse produto foram para os chineses. Em 2022, eram 52%. Já as compras de produtos agropecuários feitas pelos chineses representaram 4% das vendas totais dos Estados Unidos.
Os americanos são concorrentes do Brasil também nas carnes, principalmente na bovina. A participação americana no mercado chinês, porém, é bem menor do que a brasileira, e essa tendência deverá continuar, porque o Brasil vem ampliando a produção, e os Estados Unidos, diminuindo. O rebanho americano está em patamar muito baixo em relação ao das décadas anteriores. Falta de investimentos, opção dos produtores por produtos mais rentáveis e custos elevados na produção da carne reduzem a capacidade de produção dos EUA.
O Brasil exportou 392 mil toneladas de carne bovina para a China de janeiro a março deste ano, com receita de US$ 1,9 bilhão. No mesmo período, os americanos colocaram 45 mil toneladas no mercado chinês, no valor de US$ 390 milhões. A carne americana ocupa os supermercados chineses, enquanto a brasileira é mais utilizada como ingrediente, principalmente no processo industrial.
Associações de pecuaristas e de agricultores sentiram alívio nessas negociações entre Estados Unidos e China. Nas condições das tarifas anteriores, as perdas só com soja poderiam chegar a US$ 6 bilhões no valor da produção anual. Frango, milho, trigo e sorgo também estão na lista das exportações dos EUA para a China, mas com importância bem menor que a da soja.
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Fonte: Folha de S. Paulo