O comentarista-chefe de economia no Financial Times, doutor em economia pela London School of Economics e autor de coluna do FT publicada semanalmente na Folha, Martin Wolf, fez a seleção dos livros de economia que, em sua opinião, integram a lista do s melhores de 2024.
Confira a lista de sugestões do colunista a seguir.
“Great Britain? How We Get Our Future Back”, por Torsten Bell
Bell, ex-diretor-executivo da Resolution Foundation, agora é membro do Parlamento pelo Partido Trabalhista. Se alguém deseja entender algumas das melhores ideias do partido governante, esse é um bom ponto de partida. Parte dos fatos inegáveis de que a economia estagnou desde a crise financeira. As consequências, tanto econômicas quanto sociais, têm sido terríveis. No cerne da resposta correta estará um maior investimento, não apenas em ativos reais, mas nas pessoas. O setor corporativo do Reino Unido também parece um museu. Esta é uma análise inestimável e um chamado à ação.
“Shocks, Crises, and False Alarms: How to Assess True Macroeconomic Risk”, por Philipp Carlsson-Szlezak e Paul Swartz
É impossível prever o futuro. No entanto, isso não significa que não sabemos nada sobre ele. Nesta análise equilibrada, os autores, ambos do Boston Consulting Group, fazem três proposições sensatas sobre nosso conhecimento do que está por vir. Primeiro, nunca teremos um “modelo mestre” do futuro. Temos que confiar, em vez disso, no julgamento informado por dados, compreensão do contexto e conhecimento da história. Segundo, ignore o alarmismo tão característico da mídia. Terceiro, seja eclético. Os autores recomendam “otimismo racional”. Para líderes empresariais, isso deve fazer sentido. Riscos, afinal, incluem oportunidades.
“Left Behind: A New Economics for Neglected Places”, por Paul Collier
Tem sido um artigo de fé na economia convencional que as forças de mercado impulsionarão a recuperação em lugares que ficaram para trás. Mas a evidência é clara: essa crença, tão devotamente mantida no Tesouro de Sua Majestade, está errada. Como resultado, argumenta Collier, de Oxford, a Inglaterra tem uma das desigualdades regionais mais profundas do mundo ocidental. Muitas vezes, o fracasso leva a mais fracasso, não a uma recuperação impulsionada pelo mercado. A maneira de reverter a espiral de declínio é, ele argumenta, o oposto do que o Tesouro acredita: é conceder mais recursos externos e maior agência local.
“The Quantity Theory of Money: A New Restatement”, por Tim Congdon
Congdon é considerado excêntrico por acreditar no papel da quantidade de dinheiro na condução da macroeconomia, especialmente da inflação, que muitos dos grandes economistas do passado teriam como certo. Ele também esteve certo quando o consenso estava errado sobre os riscos de inflação, notadamente durante o “boom de Lawson” dos anos 1980 no Reino Unido e a inflação pós-pandemia dos últimos anos. Isso torna sua determinação em atualizar e defender a teoria quantitativa do dinheiro corajosa e valiosa, em vez de meramente excêntrica. Este livro é um lembrete da relevância contínua da teoria.
“The Shortest History of Migration”, por Ian Goldin
Todos os seres humanos têm ancestrais que foram migrantes. Para alguns, como Goldin e eu, esses ancestrais foram nossos pais. Para outros, essa história remonta mais longe. Mas os humanos sempre se moveram. Este excelente livro explora tanto essa história quanto o presente conturbado. Goldin observa que, apesar da histeria atual, a proporção da população mundial vivendo em países diferentes de onde nasceram tem se mantido estável em cerca de 3%. Ele também observa que as tendências demográficas, notadamente as baixas taxas de natalidade e a alta expectativa de vida em muitos países mais ricos, tornam a migração quase inevitável.
“The Care Dilemma: Caring Enough in the Age of Sex Equality”, por David Goodhart
Admiro meu ex-colega Goodhart por sua disposição em abordar questões controversas, como a imigração. Neste importante livro, ele levanta outra: o futuro do cuidado. Cuidar dos jovens e dos idosos é uma característica necessária e desejável da existência humana. Devemos pensar nos primeiros como um investimento no futuro e nos últimos como o pagamento de uma dívida com o passado. Historicamente, esses encargos eram predominantemente suportados por mulheres dentro das famílias. Essa forma de desigualdade não é mais possível. Então, como vamos oferecer cuidados de uma maneira que dê à sociedade um futuro satisfatório? A questão é de profunda importância. No momento, não temos respostas acordadas.
“Offshore: Stealth Wealth and the New Colonialism”, por Brooke Harrington
A autora é professora de sociologia econômica no Dartmouth College. Ela aprendeu sobre finanças offshore estudando para ser gestora de riquezas. Ela descobriu, como escreve, que “centros financeiros offshore são jurisdições (países, estados ou cidades-estado como Singapura) que usam suas leis principalmente para atrair capital estrangeiro —não tanto de investidores, mas, sim, de indivíduos ricos e empresas multinacionais que buscam escapar das leis de outros países.” Centros offshore vendem sigilo. Tal sigilo, argumenta Harrington, é de fato uma fonte de riqueza, mas também uma ameaça à democracia regida por leis.
“Moneta: A History of Ancient Rome in Twelve Coins”, por Gareth Harney
Neste livro encantador, Harney, um historiador e colecionador de moedas, conta a história da Roma antiga desde a fundação até o colapso, por meio do meio de sua cunhagem. O resultado é fascinante, original e divertido. A história de Roma é, claro, extraordinária. Mas a maneira como é contada por Harney a traz à vida. É um livro para se divertir, mas também um do qual tanto jovens quanto idosos podem aprender muito.
“Behind the Curve: Can Manufacturing Still Provide Inclusive Growth?”, por Robert Z Lawrence
Lawrence, um dos principais economistas de comércio do mundo, destrói a crença de que subsídios ou tarifas restaurarão uma economia na qual um grande número de trabalhadores não qualificados, predominantemente homens, ganham bons salários em empregos de fábrica. Pelo contrário, ele mostra que em países mais ricos as participações de emprego na manufatura naturalmente diminuirão, por duas razões poderosas: primeiro, a produção por trabalhador cresce mais rápido na manufatura do que nos serviços; segundo, as pessoas gastam mais de sua renda em serviços do que em manufaturados à medida que se tornam mais ricas. Essas forças são inexoráveis. Quer um país tenha ou não um grande superávit comercial, a participação do emprego na manufatura certamente cairá.
Fonte: Folha de S. Paulo