Imagine dois amigos correndo uma maratona. Um corre 10 km/h na ida e 20 km/h na volta. O outro mantém 15 km/h o tempo todo. Ambos têm a mesma média aritmética: 15 km/h. Mas quem chega primeiro? O segundo. Porque a composição real — o tempo gasto em cada trecho — faz diferença. Nos investimentos, acontece o mesmo: dois ativos podem ter a mesma média de retorno, mas o que importa é como o patrimônio evolui no tempo. E, nesse ponto, a história muda.
Muitos investidores calculam o “retorno médio” de um ativo de risco somando os resultados dos anos e dividindo pelo número de períodos. É o que chamamos de média aritmética. Mas ela pode enganar.
O que realmente afeta o seu patrimônio ao longo do tempo é o retorno composto — a média que leva em conta a multiplicação ano após ano. E aqui entra um fator muitas vezes ignorado: a volatilidade.
Volatilidade representa a dispersão dos retornos do ativo em relação a sua média. Ou seja, representa sua oscilação ao longo do tempo. Se ele sobe muito em um ano e cai muito no outro, tem alta volatilidade. Se varia pouco, tem baixa volatilidade. E por que isso importa? Porque quando um investimento tem altos e baixos, ele avança menos no tempo do que parece. A oscilação consome parte do crescimento.
Vamos a um exemplo simples. Imagine um ativo que sobe 30% em um ano e cai 30% no outro. A média aritmética é zero — trinta menos trinta, dividido por dois. Mas veja o que acontece com R$100 aplicados:
Mesmo com um “retorno médio” de zero, o investidor perdeu dinheiro. O retorno real foi de aproximadamente -4,5% ao ano. O sobe e desce prejudicou o crescimento — é o efeito da volatilidade.
Existe uma fórmula aproximada que estima esse impacto. Quando os retornos são anuais e a volatilidade é constante, podemos aproximar o retorno composto subtraindo metade da volatilidade ao quadrado do retorno médio. Em outras palavras:
Retorno composto é aproximadamente igual ao retorno médio menos metade da volatilidade ao quadrado. Ou, de forma prática: Retorno composto ≈ retorno médio – (volatilidade² ÷ 2)
Vamos aplicar isso a um exemplo mais próximo da realidade. Imagine um índice de ações com retorno médio de 15% ao ano e volatilidade de 20% ao ano. Pela fórmula, o retorno composto seria: 15 menos (20 ao quadrado dividido por 2), ou seja, 15% – (400 ÷ 2) = 15% – 2% = 13% ao ano
Se você aplicar R$100 mil por 10 anos esperando os 15%, vai projetar R$404 mil. Mas o que deve receber, de fato, será mais próximo de R$339 mil — uma diferença de R$65 mil. E isso, com a mesma aplicação e o mesmo período.
Essa diferença cresce com o tempo. Quanto mais longo o horizonte, mais o efeito da volatilidade se acumula. É como um imposto invisível sobre o seu patrimônio.
Nesse caso, cuidado quando você analisa retornos médios aritméticos passados de índices de ações ou outros investimentos. É preciso considerar a volatilidade na comparação.
Por isso, antes de se encantar com uma média alta, pergunte: quanto esse ativo oscila?
Nem sempre o investimento que sobe mais é o que leva você mais longe. Na maratona dos investimentos, quem chega primeiro nem sempre é quem corre mais rápido — mas quem corre com mais constância.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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Fonte: Folha de S. Paulo