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O que dizem os bilionários dentro do governo Trump – 20/04/2025 – Mercado


Às vezes, os bilionários que comandam o governo federal dos Estados Unidos parecem estar falando com outros bilionários.

“ESTE É UM ÓTIMO MOMENTO PARA COMPRAR!!!”, escreveu o presidente Donald Trump nas redes sociais na semana passada, oferecendo uma dica de ações que parecia direcionada à classe investidora, e não aos americanos comuns que observam a desvalorização dos seus planos de aposentadoria.

Howard Lutnick, o secretário de comércio, disse que sua sogra não ficaria preocupada se não recebesse o cheque mensal da previdência. Elon Musk, que está reduzindo drasticamente o quadro de funcionários da Administração da Previdência Social, chamou-a de “esquema de Ponzi”. Scott Bessent, secretário do Tesouro, afirmou que os norte-americanos não estão olhando para as “flutuações diárias” de suas economias para aposentadoria.

E se as montadoras aumentarem seus preços por causa das tarifas de Trump? “Não poderia me importar menos”, disse o presidente à NBC.

Os democratas dizem que os comentários mostram o quanto Trump e seus amigos estão alheios à vida da maioria dos norte-americanos, e que isso é o que acontece quando bilionários comandam a economia. Os republicanos respondem que destacar essas citações é uma seleção injusta, e que a longo prazo todos se beneficiarão de suas políticas, mesmo que seja desconfortável agora. Psicólogos afirmam que a riqueza extrema realmente muda as pessoas e suas visões sobre aqueles que têm menos.

Quem quer que esteja certo, é seguro dizer que quase ninguém acha que os comentários foram politicamente úteis para Trump, ou tranquilizadores para os norte-americanos.

“Você tem que rir para não chorar”, disse Whit Ayres, um pesquisador republicano. “O que eles disseram sobre os antigos New York Mets? ‘Será que ninguém aqui sabe jogar este jogo?'” (Ayres estava se referindo ao que o técnico Casey Stengel disse uma vez sobre seus infelizes Mets de 1962, e ao subsequente título de um livro de Jimmy Breslin, em tradução literal.)

A Forbes estimou o patrimônio líquido de Trump em US$ 4,2 bilhões (R$ 24,3 bilhões) em 8 de abril, uma queda de US$ 500 milhões (R$ 2,9 bilhões) desde 2 de abril, dia em que o presidente anunciou suas tarifas.

O patrimônio líquido de Musk, o homem mais rico do mundo, foi estimado em US$ 364 bilhões (R$ 2,1 trilhões) em 17 de abril, e o de Lutnick em US$ 3 bilhões (R$ 17,4 bilhões) no mesmo dia. Bessent, anteriormente o principal investidor do bilionário filantropo liberal George Soros, listou ativos superiores a US$ 700 milhões (R$ 4 bilhões) em seu formulário de divulgação financeira deste ano, mas acredita-se que valha muito mais.

A oposição rapidamente atacou esses comentários. O senador Chuck Schumer, democrata de Nova York e líder da minoria, disse que Trump e seus amigos ricos vivem em uma “bolha de bilionários”, enquanto o senador Bernie Sanders, independente de Vermont, criticou Lutnick nas redes sociais.

“Talvez sua sogra não reclamasse se não recebesse seu cheque da Previdência Social, mas dezenas de milhões de idosos lutando para sobreviver reclamariam”, escreveu Sanders. “Quão desconectado você está para não perceber isso?”

Muito, pelo menos de acordo com os pesquisadores.

“Se alguém está preocupado com seu bem-estar financeiro, acredite neles”, disse Frank Luntz, um veterano líder de grupos focais, pesquisador e consultor, falando sobre os temores generalizados de aumento de preços e queda de ações provocados pelas tarifas de Trump. Ele disse que o presidente entendia as ansiedades dos eleitores durante a campanha de 2024, quando prometeu repetidamente reduzir os preços dos alimentos, mas parece tê-los esquecido agora.

“Se você sabia que eles estavam lutando em outubro, por que você descarta a luta deles em abril?”, perguntou Luntz. Ele acrescentou que “a palavra que está faltando em tudo isso, de Elon e do presidente, é empatia”.

Paul K. Piff, professor associado de ciência psicológica na Universidade da Califórnia, Irvine, estuda a psicologia dos ricos há quase duas décadas. Ele disse que pesquisas mostram que à medida que a riqueza de uma pessoa aumenta, mais frequentemente a empatia e a compaixão pelos outros diminuem. Piff ressalvou que há exceções, e que não estava falando especificamente sobre os bilionários no governo Trump.

Mas ele disse que a riqueza excessiva tem efeitos profundos no caráter de alguém. “Você certamente tem mais poder e mais influência sobre as pessoas em sua vida”, disse ele. O dinheiro, acrescentou, “compra espaço e distância das pessoas, e junto com isso vem esse foco aumentado em si mesmo. Não é difícil dizer que você perde a noção de como é a vida para muitas e muitas pessoas.”

Susan Pinker, uma psicóloga canadense que foi colunista do The Wall Street Journal e do The Globe and Mail, disse que os ricos vivem em seu próprio mundo.

“A razão pela qual os super-ricos no comando do governo não conseguem imaginar como as pessoas podem ficar angustiadas com algumas de suas políticas é que eles realmente não as veem com clareza”, disse ela. “Não somos realmente construídos, de uma perspectiva evolutiva, para nos sentirmos em casa com todo mundo. Quanto mais forte nosso grupo interno, mais provavelmente excluiremos os outros.”

Steven Pinker, um psicólogo de Harvard que é irmão de Susan Pinker, disse que não estava convencido de que os comentários dos bilionários fossem por causa de sua riqueza. “Uma causa mais imediata pode ser a dissonância cognitiva”, disse ele, referindo-se ao estado psicológico que pode ocorrer quando as ações das pessoas não se alinham com suas crenças.

“No caso do governo Trump”, disse Pinker, “eles têm pouca escolha a não ser se contorcer na forma de um pretzel artesanal para defender o indefensável.”



Fonte: Folha de S. Paulo