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A lógica oculta por trás do sobe e desce do Ibovespa – 03/01/2025 – De Grão em Grão


Quando você entra em uma sala escura, o instinto é procurar o interruptor. No mercado financeiro, a luz que ilumina o caminho de valorização de um índice como o Ibovespa muitas vezes está em duas variáveis fundamentais: os lucros das empresas e o múltiplo preço/lucro (P/L). Essa equação simples ajuda a explicar movimentos complexos do mercado, mas será que estamos interpretando os sinais corretamente?

Historicamente, a valorização de um índice como o Ibovespa pode ser desmembrada em dois componentes principais: o crescimento dos lucros das empresas e a expansão ou contração do múltiplo P/L. Essa relação foi amplamente explorada por estudiosos como Aswath Damodaran, que destaca como as condições macroeconômicas, a percepção de risco e as expectativas dos investidores afetam diretamente esses fatores. Em momentos de alta inflação e juros elevados, como o que vivemos agora, os múltiplos tendem a contrair, o que pode neutralizar o impacto de um crescimento nos lucros.

Para entender o momento atual, olhemos para os dados: o fluxo de estrangeiros na B3 foi negativo em R$ 32 bilhões em 2024, enquanto as pessoas físicas adicionaram R$ 31 bilhões, segundo dados da B3. Isso levanta uma questão intrigante: será que o investidor brasileiro, ao contrário do estrangeiro, está enxergando algo diferente? Ou será que está ignorando as influências macroeconômicas que podem limitar o potencial de valorização da Bolsa?

Os lucros das empresas, um dos motores dessa equação, têm mostrado resiliência em diversos setores, impulsionados por um crescimento econômico acima das expectativas. Porém, a alta dos juros de longo prazo, com a Selic acima de 12%, e o aumento do risco percebido pelos investidores dificultam a expansão dos múltiplos. Para o Ibovespa, isso significa que, embora os lucros cresçam, a valorização pode ser limitada pela contração do P/L.

O comportamento das pessoas físicas no mercado também chama atenção. A alta taxa de juros favorece a renda fixa, mas muitos investidores brasileiros continuam a optar pela Bolsa. Será que isso reflete um otimismo sobre o futuro econômico ou uma falta de compreensão sobre os riscos embutidos no cenário atual? A saída dos estrangeiros, geralmente mais avessos a riscos em mercados emergentes durante períodos desafiadores, pode ser um indicativo de que o ambiente ainda exige cautela.

Outro ponto que não pode ser ignorado é o impacto das expectativas. Como os investidores reagem às projeções econômicas – seja para inflação, crescimento ou política monetária – influencia diretamente o comportamento dos múltiplos. E aqui surge o paradoxo: enquanto os fundamentos econômicos justificam um certo otimismo com o crescimento de lucros, os múltiplos refletem a incerteza de um cenário macroeconômico volátil.

O investidor que deseja navegar nesse cenário precisa equilibrar duas visões: uma ancorada nos fundamentos das empresas e outra que considere os ventos macroeconômicos que afetam os múltiplos. Além disso, observar o comportamento dos diferentes atores no mercado – como pessoas físicas e estrangeiros – pode oferecer pistas valiosas para ajustar suas estratégias.

Portanto, ao analisar a Bolsa, não basta olhar apenas para o crescimento de lucros ou para a atratividade do múltiplo P/L isoladamente. É necessário entender como ambos se movem, influenciados por fatores externos como juros, inflação e fluxo de investidores. Somente com essa visão integrada será possível identificar se o mercado está oferecendo uma oportunidade ou um risco.

No final, a pergunta permanece: estamos subestimando a visão do investidor estrangeiro ou superestimando nossa capacidade de prever o futuro? O mercado financeiro não oferece respostas fáceis, mas estudar e entender os fatores que movem o índice pode fazer toda a diferença. Como escreveu o economista Robert Shiller, vencedor do Prêmio Nobel, os mercados refletem mais psicologia coletiva do que pura racionalidade. Cabe a cada investidor decidir se segue a manada ou constrói uma estratégia com base sólida.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Fonte: Folha de S. Paulo