A Folha noticiou que a taxa de câmbio nominal bateu um recorde nesta semana. Na segunda-feira (16), um dólar custava R$ 6,09. Nunca na história desta moeda foi preciso desembolsar tanto real para comprar um dólar.
Movimentos da taxa de câmbio nominal são informativos. Grandes desvalorizações, em geral, sinalizam risco de crises, saída de dólar do país ou expectativas de inflação mais alta.
Entretanto, o nível da taxa de câmbio nominal não nos informa muito sobre o valor do dinheiro que ganhamos no Brasil e gastamos com produtos de outros países —ou seja, sobre quão caro está importar ou gastar no exterior. Para isso, precisamos de calcular a taxa de câmbio real.
Um exemplo simples explica esse ponto. Suponha que o governo decida que agora teremos uma nova moeda, o cruzeiro, e cada cruzeiro valerá dez reais. Naturalmente, o serviço que custava 50 reais passará a custar 5 cruzeiros. O dólar, que custava 6 reais passará a custar 60 centavos de cruzeiro.
O cruzeiro valeria, então, mais que o dólar. Isso, porém, não significa que o dinheiro que ganhamos aqui passou a comprar mais no exterior. O cruzeiro, em termos reais, não seria uma moeda mais forte que o real.
Para comparar a taxa de câmbio de hoje com a de anos ou décadas atrás, precisamos levar em conta a inflação do período. Por exemplo, a inflação brasileira acumulada nos últimos 12 anos foi cerca de 100%. Isso significa que o real de hoje compra metade do que comprava em 2012. Se não houvesse inflação em dólar, uma taxa de câmbio de 6 reais por dólar hoje seria equivalente a uma taxa de 3 reais por dólar há 12 anos. Como houve inflação no Estados Unidos, 6 reais por dólar hoje equivalem a cerca de 4 reais por dólar de 2012.
A taxa de câmbio real depende da inflação em real e em dólar e da taxa de câmbio nominal. Ela mostra quanto seria a taxa de câmbio a cada momento se o real e o dólar naquela época comprassem, em seus respectivos países, o que compram hoje.
A figura mostra a taxa de câmbio real nos últimos 30 anos –que é a idade do real. Este gráfico é um bom indicador de quão caros para nós estão os produtos importados.
A taxa de câmbio real de dezembro de 2024 não é a mais alta da história. Na segunda metade de 2002, quando o mercado temia os efeitos de Lula na Presidência, o real chegou a valer bem menos que hoje.
Contudo, excluindo aquele período e alguns pontos em 2020, durante a crise da Covid, estamos com a taxa real de câmbio mais desvalorizada da história do real.
Essa taxa real de câmbio sinaliza uma desconfiança na moeda brasileira. Ativos brasileiros estão baratos porque há relativamente pouca demanda por eles.
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Fonte: Folha de S. Paulo