A Coca-Cola Zero simboliza uma revolução no paladar. Ao entregar o sabor icônico da Coca sem o peso das calorias do açúcar, a empresa criou um produto que captura o crescente desejo coletivo de ampliar as possibilidades de desfrutar de um prazer sem consequências.
Apesar de a bebida conter várias substâncias artificiais que são alvo de debates sobre saúde, é inegável que seu estrondoso sucesso se deve ao fato de procurar atender aos desejos humanos sem a imposição de um elevado custo calórico.
Essa busca pelo prazer sem culpa, que representa uma das marcas do nosso tempo, está sendo alavancada pelos recentes avanços tecnológicos que estão permitindo mais possibilidades para equilibrar o prazer e a culpa.
E tais mudanças não se limitam aos hábitos de consumo. Elas também atravessam outras esferas da vida, como os relacionamentos e a sexualidade, ressignificando normas sociais que, ao longo do tempo, restringiram as expressões das liberdades individuais na busca pela satisfação.
Durante séculos, o prazer foi associado a tabus, culpas e repressões, especialmente para mulheres e indivíduos LGBTQIA+. Hoje, graças à revolução sexual, iniciada no século passado e ampliada pelas tecnologias contemporâneas, vivemos um momento em que diversos costumes estão sendo contestados, dando espaço para maior liberdade na busca individual pelos desejos mais ocultos.
No caso das mulheres, durante muito tempo seu prazer foi subjugado a papéis reprodutivos e às expectativas de agradar parceiros, relegando suas próprias necessidades ao segundo plano. No entanto, os avanços das últimas décadas têm permitido uma gradual desconstrução desse ideal.
Os vibradores e os aplicativos de relacionamento, por exemplo, também representam símbolos dessa transformação. Enquanto os vibradores ampliaram a exploração do próprio corpo, desestigmatizaram a sexualidade e, nas relações heterossexuais, proporcionaram a muitas mulheres a possibilidade de encontrar uma fonte de prazer que elas não estavam conseguindo alcançar com seu parceiro ou, eventualmente, parceiros, os aplicativos trouxeram a comodidade de estabelecer conexões diversificadas e exploratórias, rompendo barreiras geográficas e sociais e ampliando o cardápio de possibilidades que antes limitavam os relacionamentos.
Até para aqueles homens que costumam enxergar as mulheres mais como objetos sexuais do que companheiras para partilhar a vida, os avanços tecnológicos também estão trazendo novas possibilidades. Produtos como bonecas sexuais e realidade virtual têm oferecido alternativas para satisfazer fantasias sem envolvimento emocional com outras pessoas.
Entretanto, assim como a Coca-Cola Zero, nem tudo são borbulhas de prazer. Se, de um lado, essas tecnologias permitem a possibilidade de satisfazer fantasias sem objetificar diretamente mulheres reais, por outro lado, elas podem contribuir para perpetuar uma visão reducionista de seu papel na sociedade.
Contudo, independentemente da escolha da bebida e do brinquedinho, é importante reconhecer que o prazer está cada vez mais difícil de ser reprimido, pois sua busca constitui uma parte essencial do que somos.
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Fonte: Folha de S. Paulo